Depois de dois anos, o carnaval de Igreja Nova está de volta. A festa tradicional é marca registrada do município, com destaque para os famosos Caretas, figuras carimbadas da folia. A tradição que consiste em fantasiar-se e esconder a identidade com uma máscara ainda é preservada pelas gerações mais novas e originou-se no século passado, após uma viagem a Pernambuco de um igreja-novense astuto, seu nome era Manoel Francisco dos Santos, mais conhecido como Mané Serralheiro. Ao observar os famosos bonecos de Olinda ele teve a ideia de reproduzir seus rostos em miniatura, resultando nas máscaras de papel. Manoel foi o responsável por fabricar e difundir na cidade as técnicas de confecção das máscaras primitivas, produzidas de papel e goma de mandioca.
Tendo habilidade para o mundo das artes, João Gregório foi outro igreja-novense que teve um papel importante na história das festividades do município, sendo um dos pioneiros na confecção e venda das máscaras.
Grandes apreciadores da cultura carnavalesca, os Gregórios eram os responsáveis por organizar comemorações que são consideradas o berço do carnaval de Igreja Nova. O Carnaval dos Gregório, como era conhecido, era famoso. João, o patriarca da família, juntamente com sua esposa e filhos, residiam na Rua São Bento, de lá saia o famoso Zé Pereira, arrastando milhares de foliões.
As prévias carnavalescas, que chegavam a acontecer cerca de 15 dias antes da data oficial da festa, eram extremamente aguardadas pela população, que saia às ruas ao som de orquestras de frevo. Acordar às 05h da manhã ao som de uma orquestra era sinal que o passo já estava passando e arrastando uma multidão de foliões. .
Raimundo Rodrigues Silva, de 84 anos, era um desses brincantes. Hoje residindo no Rio de Janeiro, o carnaval igreja-novense marcou sua infância e adolescência. Sempre envolvido na folia, ao mudar-se para o Rio de Janeiro não poderia ficar de fora das comemorações. Ele, que saiu de uma cidade cuja festa era acalorada, logo se envolveu no carnaval carioca, sendo por anos um dos compositores da Portela e de diversas agremiações. Em contato conosco, Raimundo recordou com saudades dos velhos tempos:
“Lembro que na Praça Luís José tinha um salão comercial e no carnaval eles decoravam tudo, afastando as mesas de sinuca que ali haviam, e à noite, durante todos os três dias de festejos, ocorria um grande baile, onde uma comissão saia convidando às pessoas, sem distinção, e quem pudesse pagar a quantia solicitada aproveitada as três noites de muita diversão.”
Dos anos 30 até os anos 80, o carnaval, em diversos salões, garagens e grupos escolares espalhados por toda a cidade eram pontos que garantiam a diversão na folia. Destaque para um bar localizado no Canto, o bar da senhora Maria da Glória Teodoro, conhecida por Gulorinha. Este foi um dos locais mais animados para quem vivenciou os anos 70 e 80. Foi neste local que se popularizou na cidade o disco do paraense Pinduca. Tocado ano após ano, as músicas da época viraram uma marca do município, sendo reproduzidas ainda na atualidade.
Figuras como o gorila, o boi bumbá, o homem do caixão, eram garantidas nas ruas, causando medo em alguns. As personalidades que compunham as indumentárias eram trocadas a cada ano, a fim de não descobrir-se quem estava embaixo da fantasia.
O bloco das ciganas e as caveiras, esse último administrado por Nezinho Ferreira, saiam às ruas mostrando suas excentricidades. As ciganas eram um grupo de mulheres cujo nome do grupo bem diz sobre as indumentárias escolhidas por elas para cair na folia.
Apesar de tradicional, o carnaval de Igreja Nova mudou bastante, em busca de reinventara-se. Nos 90, foram implementados os carros alegóricos e o rei momo. Em 2009, após assumir como Secretário de Cultura, Marlon Matias deu mais ênfase as alegorias. Os carros, que tinham uma ornamentação singela no passado, transformaram-se em grandiosas obras de arte.
Na atualidade, o carnaval de Igreja Nova modificou-se, aderindo um formato mais moderno. Todavia, não deixa de lado a alegria e a diversão, sendo considerado por muitos como um dos melhores do Baixo São Francisco.