O DESENVOLVIMENTO DE UMA POVOAÇÃO QUE VIROU VILA E DEPOIS CIDADE

Igreja Nova, cidade centenária da região sul de Alagoas, tem em sua história a presença das diferentes etnias que constituem o povo brasileiro. Seus primeiros habitantes foram os índios da linhagem Caeté, na segunda metade do século XVI.

O desenvolvimento e crescimento do lugar só ocorreu no século XIX, quando os pescadores vindos de Penedo fundaram um povoado inicialmente chamado de Ponta das Pedras, nome que depois foi substituído por Oitizeiro e em seguida Triumpho. Estes pescadores semearam a fé, até hoje característica do povo igreja-novense, construindo uma capela que no futuro viria a ser a grandiosa matriz de São João Batista e cartão-postal do município.

O processo para se fazer crescer o lugar foi bastante árduo e se deu com a participação da população, que almejava atingir o progresso e levar melhorias para a localidade.

 

A PRIMEIRA HABITAÇÃO

 

Os índios de etnia Caeté foram os primeiros habitantes da região onde hoje se localiza o município de Igreja Nova. Viviam de forma nômade em todo o território, havendo registros orais da passagem desses nativos por muitos povoados do município. Sua chegada é datada de 1557, após serem perseguidos por tropas Portuguesas na costa do estado de Alagoas por provocarem a morte do primeiro bispo da então Colônia Portuguesa, Dom Pero Fernandes Sardinha, com um ritual antropofágico. Com a tribo quase toda dizimada, os pouquíssimos índios que conseguiram fugir do extermínio habitaram de forma intensa as regiões mais a dentro do estado alagoano, que na época ainda pertencia a Pernambuco, escolhendo áreas que lhes possibilitassem a abundância das águas. Fizeram suas moradias às margens da grande lagoa formada pelas cheias do Boacica e do Velho Chico. Era uma população muito pequena e se mudavam constantemente à medida que as águas iam baixando.

O primeiro contato desses povos com o homem branco na região se deu através da pecuária, quando o Baixo São Francisco começava a ser explorado pelos portugueses, região que inicialmente se produzia farinha, plantava-se fumo e se extraia pau-brasil. Com o tempo o gado foi substituindo essas atividades, e no começo do século XVII se faziam concessões de terra para a criação do animal.

Segundo o Dr. Osvaldo Viera do Nascimento, em seu livro “Pirangueiros”, o contato se deu quando os exploradores portugueses penetraram a várzea verdejante e se juntaram aos indígenas para fazer a exploração da região, nas proximidades do povoado Ipiranga.

Sendo nômades, a população indígena habitou intensamente toda a região igreja-novense. E no povoado Sapé a história sobre essa primeira habitação ainda permanece viva. Da época que os indígenas ali residiam, ainda há histórias de quando se banhavam num famoso brejo, próximo aquela localidade, e se vestiam com folhas, penas e “cascas de árvores”, esta última trazendo a singularidade para essa tribo, cujo nome oficial se perdeu no tempo. No povoado Flecheiras a herança indígena ainda está presente em uma “bica”, onde os índios fizeram o represamento das águas minerais e que posteriormente recebeu melhorias por parte dos moradores do povoado.

Não se sabe ao certo o que levou o fim definitivo desses habitantes na região. Porém logo se imagina a introdução na sociedade contemporânea, deixando seus hábitos culturais e tradições de lado, além da mistura com outros povos indígenas que residem próximo aos limites do munícipio.

Oficialmente, o último registro dessa tribo trata-se de 1870, quando durante uma epidemia de febre uma grande seca também atingiu a região. Há registro do episódio no  Jornal do Comércio do Rio de Janeiro.Uma notícia informava que o subdelegado Joaquim José de Oliveira e o padre José Raphael de Macedo foram encarregados de distribuir donativos a população indígena.

O mesmo jornal noticiava também a apreensão de um criminoso na “Serra da Maraba”.

CHEGADA DOS PESCADORES E DESENVOLVIMENTO DA POVOAÇÃO

 

Durante o começo do século XIX, pelas águas da grande lagoa periódica que se formava durante as cheias do Velho Chico, chegaram na região leste de Penedo dois pescadores, que fizeram crescer um povoado que virou vila e depois cidade. Trazendo posteriormente suas famílias para morar nas terras pouco exploradas, chamando este lugar de “Ponta das Pedras”. Esta habitação se iniciou em um local chamado Tapera, onde ficavam localizadas as primeiras moradias às margens da grande lagoa, e com o tempo a povoação começou a crescer para o Oeste.

A fé sempre esteve presente desde a fundação do pequeno povoamento. Devido à grande importância da igreja católica e sua influência sobre a sociedade, a primeira preocupação dos habitantes de um povoado era a construção de uma capela, sob a invocação de um santo que passa a ser o
padroeiro. E assim fizeram os pescadores, erguendo uma capela onde ocorriam celebrações, principalmente no Natal, ano novo e 24 de junho, quando é comemorado o dia de São João, o santo padroeiro.

(Ilustração da Primeira Capela. Por Reginaldo De Lima Santos)

 

Com o tempo, passaram a chamar o local de Oitizeiro, por causa da grande quantidade de plantas de mesmo nome. Segundo antigos moradores, algumas pessoas também chamavam o local de Oitizeiro da Igreja Nova, em virtude da reconstrução da primeira capelinha, nome este que ficaria mais forte anos depois, com a construção de uma grandiosa matriz.

A grande primeira conquista do lugarejo foi a elevação de povoamento a freguesia, no dia 17 de junho de 1880, pela lei de nº 849, onde se delimitam os limites territoriais. Sabe-se que havia uma grande luta para o desenvolvimento do lugar, e que seus moradores se esforçavam para conseguir a elevação de freguesia à vila, e assim ter autonomia política para a localidade. Deste período se tem a informação da presença de um agente dos correios, seu nome era José Martins de Oliveira; de um delegado de polícia, José Monteiro de Oliveira; de um delegado literário, Luiz Besuchet; e de dois educadores: Joaquim Geminiano do Rosário e Dona Maria Alves Torres.

A elevação à Vila foi promulgada somente em 1890, pelo primeiro governador de Alagoas, Pedro Paulina da Fonseca, através do decreto nº 39 de 11 de setembro daquele ano, trazendo relativas melhorias e independência para a população, com a promessa da implantação de um  Fórum Público, oficiais de justiça e demais cargos civis.

Assim nasce a Vila do Triumpho, nome que se deu pela vitoriosa conquista da população. Surge o primeiro Conselho, que exerce a administração da nova Vila, sendo possível saber os nomes dos cidadãos que os compunham através do livro Almanack das Alagoas de 1891, que também informava a organização social do lugar, destacando o nome emblemático do suplente de delegado Pedro Celestino de Souza Falcão, posteriormente Coronel e prefeito, que até hoje dá nome a uma rua do município.

 

Nesse período a população era de 8.000 a 9.000 pessoas e a locomoção dava-se através das águas do Rio São Francisco, durante as cheias. A principal atividade econômica era o plantio de algodão, cultivado até meados dos anos 80, com destaque também para o plantio do arroz, que já era uma grande fonte de renda. Porém, ao contrário dos dias atuais, ainda não era produzido em grande escala.

O desenvolvimento no período era algo nítido, e a população se empenhava para trazer mais e mais progresso. Em 1891 foi inaugurada uma estação de telégrafo, o que foi verdadeiramente uma grande conquista. Do período, sabemos a existência da rua do comércio e também de uma periferia. Ao todo existiam cerca de 300 a 400 casas na Vila do Triumpho, quase todas seguindo o estilo colonial.

O tão sonhado progresso ganha cada vez mais força no ano de 1892, quando a Vila do Triumpho é elevada à categoria de cidade, precisamente no dia 16 de maio do mesmo ano. A partir desde fato fica somente o nome Triumpho. No entanto não ficou muito tempo como cidade, sendo anexada novamente a Penedo no ano de 1895, voltando a ser independe somente em 28 de maio de 1897. Porém a data da primeira separação foi preservada e o nome Igreja Nova só é adotado em 1928 em virtude da construção da nova Matriz.

 

 

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