No começo do século XX, Igreja Nova, até então chamada Triumpho, vivia um período de transformações e desenvolvimento acelerado. A população, que no final do século XIX, tinha 7.641 habitantes, em 1910, durante o governo do Cel. Pedro Celestino de Souza Falcão, passou para mais de 20.000. Com o crescimento do município surgiam também novas edificações, principalmente para atender as casas de comércio. As primeiras construções, ainda do século XIX, majoritariamente seguiam o estilo colonial.Com a entrada do novo século ganhou força o ecletismo, uma mistura do estilo antigo com o que se tinha de mais moderno. No período, as platibandas, muitas vezes com balaústres, começaram a dominar o cenário arquitetônico.
O casarão da família Nunes é um dos poucos exemplares que ainda preservam a arquitetura eclética. Contendo o Brasão Imperial, a edificação guarda um mistério a respeito do ano de sua construção. Embora datada de 1926, a presença do Brasão do Império desperta uma reflexão sobre o ano em que foi construída, uma vez que após a Proclamação da República, em 1889, o Brasão de Armas Imperial entrou em desuso. Suspeita-se que o ano datado no frontispício seja o de sua reforma. Da edificação, apuramos informações de seus antigos proprietários na primeira metade do século XX, Arthur Santos, fiel apoiador do ex-prefeito Carlos do Valle Ferro e Joventino Góes.
Em uma época onde a igreja católica tinha enorme influência sobre a sociedade, os clérigos eram verdadeiros líderes de suas comunidades e buscavam trazer melhorias para o lugar onde exerciam suas funções sacerdotais. Foi em 1907 que Frei Adalberto Krichbaum tomou posse como vigário. Sob sua administração eclesiástica foi construído um centro de entretenimento para a comunidade “Triumphense”, nascia o Theatro da Escola Paroquial, local onde ocorriam recitais, peças de teatro e apresentações artísticas. O terreno para a construção do majestoso edifício foi comprado em 16 de dezembro de 1913, mas só dois anos mais tarde, em 1915, o prédio foi inaugurado. Com piso de madeira e vários ornamentos em sua fachada foi vendido na década de 80, não restando sequer uma única fotografia do lugar. Frei Adalberto Krichbaum deixou a paróquia quando da eclosão da Primeira Guerra Mundial. De origem alemã, por motivos superiores, foi decidido seu afastamento.
Das construções que não tiveram êxito, chama atenção a quase instalação de um orfanato, cuja edificação iria ocorrer em um dos terrenos pertencentes à Freguesia de São João Batista. Em 1918, após tomar posse como pároco, Frei Odilon Gelhaus queria realizar seu grande sonho, construir um orfanato, ele planejava trazer as Irmãs Concepcionistas para administrar a futura instituição. O terreno chegou a ser escolhido, porém não foi possível concluir o projeto. Depois de alguns anos, o local se transformou no Grupo Escolar Alfredo Rêgo. Uma informação importante. No ano em questão, a gripe espanhola se espalhava pelo mundo, em Triumpho três vítimas foram a óbito em decorrência da doença. Frei Odilon, juntamente com Wenceslau José do Santos e José Domingos de Melo, prestaram relativos serviços de assistência aos doentes.
Por também iniciativa de um sacerdote foi construído, em 1884, em um dos terrenos pertencentes a matriz, o cemitério Nossa Senhora da Piedade. Mas apenas nos anos 20, do mesmo século, o local recebeu atenção do Poder Público, ganhando a forma que conhecemos na atualidade. Embora edificado pela paróquia com ajuda do povo, após a Proclamação da República, em 1889, o cemitério deixou de ser propriedade paroquial e passou a ser propriedade municipal. Sua reforma começou em 1923, sendo finalizada em 1925 com a construção dos muros e reforma da pequena capela. Apesar dos documentos constarem como Intendente do período o senhor Antônio Vasconcelos Filho, na placa presente na entrada do local aparece como autor da obra o nome do Cel. Álvaro Silva, então Presidente do Conselho Municipal.
Desde a fundação do município, devido a fatores sociais, existia uma separação entre a área central e a região denominada de Canto. O Largo da Feira (atual praça Luiz José) e Rua Ruy Barbosa (atual Rua Cel. Pedro Falcão) abrigavam imponentes edifícios que se destacavam. Todavia, mesmo tendo uma grande parcela de casarios simplórios, o Canto também possuía imponentes construções.
Edificado nos anos 20 do século passado, existia na Rua São José um arcaico edifício que se sobressaia, o Villa Padre Cícero. A insigne construção chamava atenção por ficar em uma parte mais alta, em comparação com os outros edifícios da via. Em 1947, o senhor Manoel Rodrigues da Silva, também conhecido por “Né Ourives,” adquiriu a residência, até então propriedade de um homem conhecido por Senhor Ferreira. Na transação entrou como moeda uma casa localizada na Rua Cel. Pedro Falcão. O domicílio, que se encontrava bastante deteriorado, foi recuperado pelos mestres João Gregório e Leonildo. Contendo cinco quartos e uma grande sala de visitas a edificação destaca-se pela sua imponência e grandiosidade. No começo da década de 80 a residência deu lugar a atual Escola Júlio Leite.
Na Rua Coronel Pedro Falcão, os resquícios de um casarão secular chamam atenção, a propriedade ainda preserva um muro típico das arcaicas construções. O casarão pertenceu a Ênio Leite e sua esposa Dagmar. Nos tempos áureos da residência o espaço entre as colunas concedia a vista de um belo jardim frontal. Contendo um portão de ferro fundido, digno dos pequenos palacetes, outro detalhe que chama atenção no muro são as pinhas de cimento, ornamento comum da arquitetura do século XIX e XX e que expressava o alto poder aquisitivo dos proprietários. Hoje, o imóvel foi transformado em dois edifícios, todavia, ao ser construída, a residência da esquerda fazia parte da propriedade, formando um só casarão em formato de “L”. Ainda é possível observar as marcas das portas na lateral da casa à esquerda.
A precariedade do saneamento básico no século passado, incumbia em construções cujos banheiros ficavam separados do casarões, estes, situavam-se geralmente nos fundos. O primeiro edifício a ter um banheiro interno no município foi o Villa Ilza. O imóvel foi propriedade do ex-vereador Euthymiono Queiroz, no começo do século XX, depois passou para família Valle Ferro. Em decorrência de uma crise financeira, a propriedade foi a leilão, sendo adquirida pelo patriarca da família Raposo, o senhor Arlindo. O imóvel teve sua nomenclatura alterada no frontispício, passando de Villa Izaura para Villa Ilza, fazendo uma homenagem a ex-professora do Grupo Escolar Alfredo Rêgo e esposa de Arlindo, a senhora Ilza Raposo.
A edificação datada de 1928 preserva tanto em seu exterior quanto na parte interior toda a arquitetura do século XX, com destaque para a majestosa varanda lateral. Abaixo da sala existe um grande porão, que servia para armazenagem de todo tipo de utensílio.
No final da década de 60, uma reforma para ampliar a área central do comércio é articulada, com isso, perde-se um quarteirão inteiro de prédios do século XIX. Recebendo seus proprietários uma indenização por parte do Poder Público. Em uma dessas propriedades funcionava, no começo no século XX, um armazém de secos e molhados, pertencente a Wenceslau José dos Santos, onde havia uma grande variedade de quase tudo, desde cereais e bebidas até produtos de manejo agropecuário. Tendo uma grande variedade de produtos, o comércio de Triumpho, embora pequeno, atendia a demanda de sua população e numa época onde as roupas eram confeccionadas por alfaiates e modistas, os tecidos eram imprescindíveis no mercado.
Em 09 de setembro de 1920, Sisino Borges, importante nome da política igreja-novense, inaugurava sua loja de tecidos, ele já havia trabalhado durante 10 anos no Armarinho Pedro Falcão & Cia. Desenvolvendo toda a habilidade para dedicar-se ao ramo, nascia a Loja Confiança. Hoje, com 102 anos, e administrada por Niêta Borges, é o estabelecimento comercial mais antigo de Igreja Nova e funciona no mesmo lugar de sua fundação, na Praça Luiz José N° 66. O interior do prédio preserva toda a mobília original. Com um grande balcão, piso de ladrilho e um armário expositor típico do século passado, a loja é uma verdadeira viagem ao século XX. Nos catálogos ainda preservados, encontramos alguns modelos que serviam de inspiração para as moças igreja-novenses.
Ao longo do século XX houveram outras construções importantes que abordaremos nas próximas publicações.
Texto: Mathews Gomes
Revisão: Raphaella Aguiar
Fotos: Acervo